Importantes registros da vida, trajetória profissional e da marca criada pela empresária de moda cearense Fátima Castro foram reunidos em uma publicação que celebra sua visão, elegância e pioneirismo. O livro “Fátima Castro, o estilo de uma mulher à frente do seu tempo” traz nas 256 páginas um registro atento sobre as criações, a imponência da persona grata e a força empreendedora da mulher que deu nome e conceito à própria marca, atravessando décadas desde os primeiros passos antes do boom da moda cearense até sua consagração nacional.
Organizado e publicado pelo selo editorial As Águas Claras, a obra é uma construção de memórias tecidas com afeto e precisão pela filha de Fátima, Beatriz Castro. Designer, estilista, multiartista e autora do livro, Bia não apenas conta a história da mãe, mas costura os fios de um legado que a transcende. O projeto gráfico, assinado pelo artista e designer Fabrício Porto, dialoga com a estética refinada da marca, enquanto a sobrecapa, elaborada pelo artista Mario Sanders, envolve a publicação em arte. O livro conta ainda com apresentação da advogada e pesquisadora cultural Ianne Saboia e textos da jornalista Izabel Gurgel e do comunicólogo especializado em moda Jackson Araujo. Fotografias, registros jornalísticos e publicitários, além de trechos de outras publicações, fazem desta obra um rico acervo visual e documental.
Uma Mulher à Frente do Tempo
Beatriz Castro retorna às lembranças e influências de sua mãe, não apenas como a mulher forte e visionária que marcou a moda cearense, mas como a presença amorosa e irreverente que encantava e inspirava.
“A admirei e admiro por isso, sou profundamente grata. Ela se realizava através do seu trabalho. Trabalhando se tornava mais bonita, mais alegre, mais vibrante. O trabalho era o seu motor e o seu motivo”
Beatriz Castro
Fátima começou a trabalhar aos 16 anos para ajudar a sustentar a casa onde vivia com os pais e oito irmãos. Antes de se dedicar ao universo da moda, construiu uma carreira no Conselho Estadual de Educação, até que, incentivada pela mãe, Edith, decidiu deixar o serviço público para realizar seu sonho: criar roupas com exímia elegância atemporal. A organização do livro teve início em 2024, para marcar os 50 anos do ateliê FC.
“São memórias afetivas, mas que narram o seu percurso profissional, nesse mundo predominantemente masculino, onde poucas mulheres têm voz e independência e que ela, sem teorizar, me mostrou e te mostrará através do seu exemplo como se faz”.
Beatriz Castro
O sucesso do ateliê foi imediato. Em pouco tempo, a casa de Fátima ficou repleta de mulheres em busca de suas criações. Linho, seda, rendas, tafetás e outros tecidos nobres eram a matéria-prima de suas peças, sempre feitas à mão, sempre feitas para durar. O linho e os bordados à mão em ponto cruz tornaram-se sua marca registrada. “A simplicidade era a sua busca permanente”, relembra Beatriz.
A história da marca se entrelaça com a de Fortaleza e com a evolução da moda autoral cearense. Fátima investiu em uma pequena confecção junto ao irmão, Francisco de Assis Bezerra de Menezes, próxima ao ateliê, na Praia de Iracema. Beatriz começou a trabalhar com eles depois de se casar e, aos 21 anos, já era sócia.
“Minha mãe orientava os produtos, mas assumi essa parte na fábrica e ela continuava com o ateliê em casa. Depois de dois anos, o meu tio veio dedicar-se em tempo integral ao negócio que começava a dar bons resultados, criamos a marca Fátima Castro em 1985 e fomos crescendo como empresa”.
Das primeiras criações na casa familiar, a confecção das roupas cresceu e ganhou um galpão no bairro Rodolfo Teófilo, ampliando a presença da moda cearense pelo Brasil. O showroom da marca chegou à Oscar Freire, em São Paulo. Em 1986, o ateliê-loja voltou à Praia de Iracema, agora em um imóvel reformado com um arrojado projeto neoclássico assinado pelo arquiteto José Porto, um marco na arquitetura local. “A loja era bem organizada e minimalista com poucas araras de roupas e um recamier de seda azul Klein”, recorda Beatriz.
O Luxo da Simplicidade
“Foi Dona Fátima que imprimiu o acabamento e o preciosismo necessários para conferir ao tal artesanato sinônimo de luxo: um luxo simples, muito tempo antes da expressão virar nome de tendência de comportamento. Assim sendo, com seu artesanato de luxo, ainda no final dos anos 1980, Dona Fátima fortaleceu o movimento cearense que chamo de alfaiataria tropical, adequando a maestria das modelagens ao clima praiano, num tempo em que Fortaleza era considerada a maior capital de moda fora do sudeste brasileiro”, afirma Jackson Araujo.
A modelagem e a atenção aos detalhes sempre foram princípios fundamentais na marca Fátima Castro. O rigor da alfaiataria, os bordados minuciosos, a capacitação dos modelistas e a evolução tecnológica na industrialização da marca seguiam uma mesma diretriz: a durabilidade. “Não apenas do material em si, mas da contemporaneidade no estilo ao longo do tempo”, ressalta Beatriz.
Como alinha o texto de Izabel Gurgel, que ainda universitária foi assessora de comunicação da marca, a força de Fátima Castro ia além da moda. Seu apoio a iniciativas artísticas e jovens criativos ampliava horizontes. A participação da marca em catálogos de talentos, como a exposição no Sesc São Paulo, mostra essa faceta generosa e inquieta. “Em tempos que pedem por mais investimentos em delicadezas, resistências e sustentabilidades, o livro ‘Fátima Castro, o estilo de uma mulher à frente do seu tempo’ aponta à importância, força e poderio femininos da inquietude criativa de Fátima, fazendo do livro um necessário e renovador resgate desse requinte que existiu um dia, onde roupas de qualidade duravam bem mais de uma geração”, exalta Beatriz Castro.
+ O projeto editorial conta com incentivo da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), via Lei Paulo Gustavo e Ministério da Cultura (Minc). Outras informações sobre a obra podem ser obtidas através das seguintes contas do Instagram: @beatrizcastroagoiabeira @as.aguas.claras @arteethos @fatimacastro0408 @pontualcom
