Mais da metade dos advogados usa Inteligência Artificial Generativa no dia a dia. É o que aponta uma pesquisa inédita feita com mais de 1.500 profissionais do setor jurídico pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seção São Paulo (OAB SP), pela Trybe, pelo Jusbrasil e pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio).
📎 Leia o estudo na íntegra:
https://betrybe.com/inteligencia-artificial/relatorio-impacto-ia-no-direito?utm_medium=referral&utm_source=jota&utm_campaign=jota-exclusiva
A iniciativa possibilitou a criação de um retrato do atual estágio de adoção da IA Generativa no setor jurídico brasileiro. O objetivo é direcionar os próximos passos para preparar profissionais e instituições para essa transformação digital, que se acelera cada vez mais no setor.
Os dados apontam que 55,1% dos entrevistados já utilizam IA Generativa em suas atividades profissionais, principalmente para análise e resumo de documentos, criação de peças jurídicas e pesquisas de doutrina e jurisprudência. Os profissionais que utilizam frequentemente a tecnologia destacam impactos positivos. Entre os entusiastas, 78% utilizam ferramentas de IA Generativa pelo menos uma vez por semana. Já entre os céticos, 69% acreditam que a IA impactará negativamente a qualidade do trabalho jurídico, 54% estão preocupados com vieses nas decisões automatizadas, e 45% temem que a IA comprometa a ética jurídica e traga mais desafios com a automação de decisões complexas.
Segmentando por perfil profissional, 50% dos advogados autônomos, 62% dos advogados de escritórios ou empresas privadas e 63% dos operadores do Direito no setor público fazem uso regular da tecnologia. Como principais aplicações da IA em suas rotinas, 53% dos usuários frequentes destacam a análise, resumo e criação de documentos e peças jurídicas; e 39% apontam atividades como pesquisas de doutrina e jurisprudência. As ferramentas mais utilizadas por esse grupo são: ChatGPT (89%), Jusbrasil (62%) e Gemini (46%).
Entre os benefícios observados pelos usuários frequentes, destacam-se a automação de tarefas repetitivas, a otimização da pesquisa jurídica e a redação de documentos. No entanto, esses profissionais também apontam desafios. As preocupações éticas, como vieses e subjetividade, são citadas por mais de 44% dos usuários frequentes, 38% do grupo sem adesão e 44% do grupo com pouca adesão.
Outros desafios incluem a falta de supervisão humana adequada (44% dos usuários frequentes, 34% dos sem adesão e 42% dos com pouca adesão). Além disso, usuários sem adesão e com pouca adesão também citam a dependência excessiva da IA sem validação humana (39% e 40%, respectivamente).
De modo geral, a maior parte dos respondentes (93%) acredita que o uso de IA Generativa vai aumentar no próximo ano. Isso reflete a conscientização sobre a necessidade de capacitação, atualização e adaptação constantes, mesmo para aqueles que ainda não utilizam a tecnologia.
Outro dado relevante é a influência do contexto organizacional na adoção da IA. Cerca de 65% dos usuários frequentes trabalham em organizações que incentivam o uso da IA Generativa, enquanto 67% dos profissionais sem adesão estão em empresas que não oferecem esse incentivo. A adoção, em grande parte, é impulsionada pelos próprios profissionais, em vez de lideranças – que aparecem como figuras de influência ou proposição do uso da IA Generativa em apenas 16% (usuários frequentes), 6% (sem adesão) e 11% (pouca adesão) dos casos.
Mais sobre a pesquisa
A pesquisa contou com mais de 1.500 participantes voluntários, abrangendo operadores do Direito de todas as regiões do Brasil. No entanto, a amostra não é estatisticamente representativa da totalidade dos profissionais da área. A divulgação realizada pelos canais das entidades organizadoras pode ter introduzido vieses, especialmente em relação à distribuição geográfica, ao nível de escolaridade e ao interesse pela tecnologia de IA Generativa. Como a participação foi espontânea, é provável que os respondentes já tenham maior engajamento com o tema, refletindo uma visão mais favorável à sua adoção. Assim, os resultados devem ser interpretados de forma relativa, considerando as limitações da amostra e os possíveis vieses metodológicos.
+ A Trybe, fundada em 2019, é uma escola de tecnologia e inteligência artificial voltada para pessoas que buscam iniciar seus estudos, fazer uma transição de carreira ou progredir em suas profissões com o aprendizado de habilidades relacionadas à tecnologia e à IA. O ITS Rio é uma associação civil sem fins lucrativos dedicada ao desenvolvimento de pesquisas e projetos sobre o impacto social, jurídico, cultural e político das tecnologias da informação e comunicação.
Foto de Mikhail Nilov / Pexels